CORDEL VIRTUALMerlanio Maia, poeta, cordeleiro, artista popular com 15 livros editados e 08 CDs gravados. Atualmente, está com o show Cordel Vivo nos teatros e casas de espetáculos do Brasil e da Europa. O poeta ainda mantém um canal de poesia popular no Youtube: "Canal de Merlanio Maia."
POR MERLÂNIO MAIA
Eis a nação que sonha embevecida
Ser um exemplo aos povos do futuro.
Mas hoje acorda num imenso monturo
Que foi forjado ao longo de sua vida.
Desde o império se inclina em descida
Com sanguessugas que sugando vão,
Multiplicando sujeira em seu chão,
Frente ao pomposo poder do império.
Incomodando heróis no cemitério
Na triste noite da corrupção.
Seus mortos movem-se, desesperados.
Saem às ruas, levantam bandeiras,
Invadem praças, alamedas, feiras...
Profundamente decepcionados.
De Tiradentes escutam-se os brados,
De Castro Alves a indignação.
Voltam os poetas da libertação,
Voltam os heróis, do além, republicanos,
Dançam nas noites contra os tais tiranos
Na triste noite da corrupção.
Se o tempo urge, a tal nação se arrasta...
Só vendo seu pobre povo humilhado,
Presenciando o roubo deste Estado
Que, a cada dia, da riqueza afasta.
- Aos miseráveis, pão com circo basta!
E a liberdade escorre pela mão,
E num crescendo se esparrama ao chão
No gesto tosco desse vai e vem.
Só sonhadores gritam do além
Na triste noite da corrupção.
Os pigmeus da moral querem trono
Mesmo que levem o país ao abismo.
Ninguém vê honra, lisura, altruísmo!...
Brasil delira feito um cão sem dono
Em berço esplêndido o gigante é sono,
Enferrujado na acomodação.
A idiotice contamina o chão
O povo dorme e o vazio é extenso,
Os mortos gritam vendo o mal imenso
Na triste noite da corrupção.
A hipocrisia é corrente moeda
E a mentira agora é um ideal.
A mídia é quem cria a versão final
E o fato perde a força e leva queda.
Quem mente mais do poder não se arreda.
A lama envolve e a TV faz “serão”,
Faz a cabeça – dona da razão!
E o povo teme e, tremendo, obedece.
Há uma teia que a aranha tece
Na triste noite da corrupção.
Brasil acorda, apresenta a imponência!
Acorda e grita: “Independência ou morte!”
Colosso impávido, de infinito porte,
Mostra a lisura da tua inocência.
Chama os teus filhos, plenos de decência,
Expulsa o mentiroso e o ladrão.
Levanta o braço de enorme nação
Que vibra dentro do teu forte povo.
Faz teus heróis renascerem de novo
Na triste noite da corrupção!
Foto: Reprodução/GGN