SEBASTIÃO COSTAMédico e fundador do Coletivo Amigos da Democracia. A coluna se dedica à análise do cenário político brasileiro e internacional.
POR SEBASTIÃO COSTA
As rusgas entre os dois países foram inauguradas no dia 01 de janeiro de 2019, quando o extremismo de direita aboletou-se no poleiro do Palácio do Planalto.
Chegou lá surfando nas ondas do antipetismo, impulsionadas pela força motriz da mídia direita-volver e com o auxílio luxuoso do lavajatismo, que extraiu da nossa convivência política o imbatível Luiz Inácio Lula da Silva
Para ser mais exato, há de se esclarecer que as rusgas caminham em uma só direção: da política externa americano-dependente do governo brasileiro contra o gigante chinês, o mais produtivo parceiro comercial do nosso país.
Mas, se a miopia da extrema direita não enxerga sequer o PIB do país, como esperar sensibilidade para visualizar o sufocamento dos hospitais, o martírio das vítimas sem oxigênio, o trânsito congestionado dos necrotérios?
A insensibilidade generalizada de todo um sistema de governo ficou escancarada quando, em julho do ano passado, o Itamaraty nem sequer respondeu ao convite do embaixador mexicano, presidente da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC), para participar de uma reunião de cúpula, onde se discutiu o acesso dos países latino-americanos à vacina coronavac, conjugada a uma oferta de 1 bilhão de dólares dos chineses para aquisição de insumos de combate à pandemia.
Na pauta da reunião, uma proposta do governo chinês abordando cinco itens de ajuda, entre eles, o envio de médicos com larga experiência no manuseio de recursos contra a covid.
Um detalhe: o americanismo entranhado na política externa do governo Bolsonaro forjou, já em 2019, o desligamento do Brasil daquela Comunidade.
Sem o gigante latino-americano, a cúpula contou com a participação efetiva de governos à direita e à esquerda (Argentina, Colômbia, Peru, Chile, Uruguai, Barbados, Costa Rica, Cuba, República Dominicana, Equador, Panamá e Trinidad e Tobago), todos comprometidos apenas em amenizar a violência de uma pandemia que traumatizou toda uma estrutura de vida no planeta, espalhou dor e sofrimento, destruiu sonhos e projetos.
Hospitais e UTIs sufocados, necrotérios sobrecarregados, e a realidade de Manaus de hoje precisam ser transformados num grito de desespero e revolta contra uma política movida por ideologia fascistoide, absolutamente insensível a tantos choros e lamentos que andam ecoando em todos os recantos de nossa Pátria Amada Brasil!
Foto: Adriano Machado/Reuters